Zika:
efeitos da doença na gestação podem ir além da microcefalia em bebês
- 07/05/2016 17h40
- Brasília
Aline
Leal - Repórter da Agência Brasil
Um ano depois que o Zika começou
a circular no país, as dúvidas sobre o vírus continuam maiores que as certezas
e pesquisadores apontam que os efeitos da infecção durante a gestação podem ir
além da microcefalia em bebês. “A criança pode vir com um cérebro menor,
mas a cabeça do tamanho normal ou até maior por acumular muito líquido”,
explicou a pesquisadora Adriana Melo.
Brasília - Adriana Melo, pesquisadora e presidenta
do Instituto Paraibano de Pesquisa Professor Joaquim Amorim NetoWilson
Dias/Agência Brasil
A especialista em medicina fetal
e presidenta do Instituto de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto (Ipesq),
sediado em Campina Grande, Paraíba, foi a primeira pesquisadora a comprovar
laboratorialmente que o líquido amniótico de uma gestante que teve o filho com
microcefalia estava infectado pelo vírus Zika. Em audiência pública na Câmara
dos Deputados esta semana, Adriana expôs alguns pontos sobre o vírus observados
no instituto, criado por pesquisadores renomados e sem fins lucrativos.
De acordo com a médica, a
identificação de crianças afetadas ainda na gestação pela infecção deve ir
muito além da fita métrica, que mede o tamanho da cabeça. Ela explica que os
especialistas já usam o termo Síndrome Congênita do Zika, para identificar
crianças que foram afetadas pelo vírus ainda na barriga das mães. O Ministério
da Saúde também já reconhece o termo.
“Usar só microcefalia dá uma
ideia à população de que a cabeça sempre vai ser menor do que o normal. A
microcefalia é quando o cérebro é menor, mas a cabeça pode ser menor ou não. O
termo também dá a ideia de que esse é o único problema, e não é. Tem bebês com
problemas auditivos graves, problemas visuais, convulsões, com dificuldade de
deglutição”, detalhou a Adriana. Segundo a especialista, o ideal é que o
diagnóstico da síndrome seja feito ainda na gestação, para que o parto ocorra
em um hospital de referência, já que algumas das consequências da infecção pelo
vírus são os riscos para a gestante e para o bebê na hora do nascimento.
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Apesar de o grupo de
pesquisadores do Ipesq ter evidência clínicas sobre o comportamento do vírus
Zika, falta dinheiro para as comprovações científicas. “Em Campina Grande o
instituto tem o apoio da prefeitura, tem parceiros privados, os pesquisadores
usam recursos próprios, a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] apoia,
mas é tudo na base da amizade, do improviso, não é assim que deve andar uma
pesquisa”.
Quase 500 gestantes que tiveram
sintomas de Zika já foram atendidas no instituto. Destas, 30 tiveram exame
laboratorial confirmando o diagnóstico e quatro tiveram bebês com Síndrome
Congênita do Zika. Os pesquisadores estão acompanhando as 30 mães para ver o
que há de diferente entre as que tiveram filhos com a síndrome e as que não
tiveram.
Ao todo, cerca de 60 crianças com
a síndrome são acompanhadas pelo grupo de pesquisadores. Com o acompanhamento,
foi possível ver o impacto positivo da estimulação precoce nesses casos, mas,
segundo Adriana, “precisamos de recursos para que exames comprovem
cientificamente a melhora que estamos vendo”.
Adriana Melo ainda levanta a
hipótese de que uma pessoa que foi infectada pelo vírus possa vir a ter a
reativação da infecção algum tempo depois. “Ainda é tudo na base do achismo,
vimos casos isolados. A gente dizia inicialmente que era melhor ter Zika
e só depois engravidar. Hoje, a gente não sabe mais, pode ser que sim, mas pode
ser que você fique com o vírus e depois ele seja reativado”, disse a pesquisadora.
“O nosso papel hoje não é alarmar, é alertar que certas coisas podem
acontecer e que a gente tem que ficar de olho, tem que pesquisar, continuamos
com mais dúvidas do que respostas”.
Zika
Transmitido por um mosquito já
bem conhecido dos brasileiros, o Aedes aegypti, o vírus Zika começou a
circular no Brasil em 2014, mas teve os primeiros registros feitos pelo
Ministério da Saúde em maio de 2015. O que se sabia sobre a doença, até o
segundo semestre do ano passado, era que sua evolução costumava ser benigna e
que os sintomas, geralmente erupção cutânea, fadiga, dores nas articulações e
conjuntivite, além de febre baixa, eram mais leves do que os da dengue e da
febre chikungunya, também transmitidas pelo mesmo mosquito.
Porém, em outubro de 2015, exame
feito pela médica especialista em medicina fetal, Adriana Melo, descobriu a
presença do vírus no líquido amniótico de um bebê com microcefalia. Em 28 de
novembro, o Ministério da Saúde confirmou que, quando gestantes são infectadas
pelo vírus, podem gerar crianças com microcefalia, uma malformação irreversível
do cérebro que pode vir associada a danos mentais, visuais e auditivos.
Pesquisadores confirmaram que a Síndrome de Guillain-Barré também pode ser
ocasionada pelo Zika.
De acordo com o primeiro boletim
da doença divulgado pelo Ministério da Saúde, em fevereiro e março deste
ano, foram notificados 91.387 casos prováveis de infecção por
zika no país. A chegada do vírus ao Brasil elevou o número de
nascimentos de crianças com microcefalia de 147, em 2014, para pelo menos 1.271 casos de outubro
do ano passado a 30 de abril deste ano.
Edição: Lílian
Beraldo
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