Mulheres na ciência: por que há
menos alunas em ciência e engenharia?
Mesmo em instituições renomadas, o número de
mulheres na ciência ainda é menor que o de homens. Universidades como Yale e
Brown tentam solucionar o problema.
Por
Priscila Bellini
Albert Einstein, Charles Darwin,
Isaac Newton, Nikola Tesla. Quando se pensa em uma lista de figuras mais
famosas da ciência, uma sequência de nomes vêm à mente. De início, um caminho
fácil para identificar essas pessoas de destaque é lembrar das aulas de Física,
Química e Biologia: quais deles apareciam nos livros didáticos, quais foram
homenageados em unidades de medida (como Faraday, herdado do físico e químico
inglês Michael Faraday). Em sua maioria, são nomes masculinos.
O tamanho do problema tem a ver
com um contexto histórico que impediu mulheres de estudar, de ocupar postos na
academia e mesmo que eclipsou o nome dessas mulheres na hora de divulgar
grandes feitos. Até que houvesse uma Marie Curie, laureada com o prêmio Nobel e
reconhecida mundialmente, muitas mulheres ficaram para trás. Não é à toa que,
ainda hoje, a representatividade feminina esteja em desvantagem.
Como a estudante de Neurociência
da Brown University
Beatriz Arruda aponta, essa falta de figuras femininas vira um obstáculo
presente até hoje. “É um ciclo vicioso. O fato de haver menos mulheres na
ciência, no passado, também faz com que haja menos mulheres na ciência
atualmente”, diz ela. A ausência de modelos colabora para a ideia de que há
atividades “de homens” e “de mulheres” e desestimula meninas na hora de se
interessar por essas áreas. Em média, apenas 5% das garotas cogitam uma carreira em áreas como engenharia e computação. O
Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) já mostrou que, desde
muito cedo, as meninas duvidam da própria capacidade em campos como a
Matemática.
A gente começa a se perguntar se
aquele é o nosso lugar, se sente um pouco deslocada
Os obstáculos não cessam quando a
ala feminina chega à universidade e vai para cursos que se encaixam na sigla
STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, na versão em inglês).
Mesmo em instituições conceituadas, como as da Ivy League. “A gente
ouve coisas do tipo ‘essa aula vai ser muito difícil pra você’”, conta a
estudante de Física da Universidade Yale, Bárbara Cruvinel. “Quando
você não associa a imagem de uma mulher a um laboratório, por exemplo, porque
não vê tais pessoas nesses lugares, cria um preconceito inconsciente contra
elas”, explica Bárbara. Ainda que de modo involuntário, professores e alunos
acostumam-se com a ideia de que mulheres são menos capazes de estar naquele
lugar.
Outro ponto que chama a atenção
de muitas alunas em cursos de ciências biológicas e exatas vem da separação de
tarefas. “Se você faz uma matéria em ciência da computação, os professores vão
querer que as mulheres cuidem do design e vão deixar a programação para os
homens”, exemplifica Bárbara, que faz parte do grupo Women in
Physics e integrou o time da American Physical Society Conference for Undergraduate Women
in Physics, em 2015. Esse cenário fortalece a ideia de que
carreiras em ciência não são “lugar de mulher”. “A gente começa a se perguntar
se aquele é o nosso lugar, se sente um pouco deslocada”, comenta Beatriz
Arruda.
Solucionando o
problema
Apesar dos obstáculos, ganham
força dentro das universidades as iniciativas voltadas à inclusão de mulheres e
de grupos minoritários. Tanto as instituições de ensino quanto as próprias
alunas organizam tais ações, a exemplo de programas de mentoria.
Para Beatriz, “as mulheres na
ciência têm o dever de apoiar e mentorar as mais novas”. Na Brown, ela ajuda na
recepção e adaptação de estudantes internacionais – entre eles, as mulheres,
que podem se engajar em diversas iniciativas. O WiSE (Women in Science and Engineering), uma
das opções para as alunas em Brown, organiza debates com cientistas de renome,
conversas com professoras dos departamentos e orientação individual para as
alunas.
Como destaca Bárbara, de Yale,
trazer mais mulheres para a ciência não apenas beneficia as alunas, como também
os próprios campos de conhecimento. “Se, por motivos sociais, você exclui essas
pessoas, perde 50% dos cérebros que teria para trabalhar naquele campo”.
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