Intercâmbio de trabalho voluntário: ajudando a si mesmo e aos outros
Por Colunista do Estudar Fora
O primeiro contato que tive com a AIESEC foi em 2012 e, como para a maioria das
pessoas, meu interesse pela organização surgiu da vontade de fazer um
intercâmbio. No fim, este desejo foi se realizar apenas 3 anos depois, em 2015.
Nesse meio tempo, me tornei membro da AIESEC, participei da organização de
alguns eventos locais, fui membro do time nacional de suporte, por fim, fui
Diretor de Gestão de Talentos. Para fechar minha experiência, então, finalmente
realizei um intercâmbio de trabalho voluntário.
Fui para a cidade de Oruro, na Bolívia, por meio do
programa na época chamado Cidadão Global (hoje Voluntário Global). Meu
intercâmbio consistia em um trabalho voluntário no projeto Educa Leadership, e
eu era responsável por ministrar oficinas sobre liderança e oratória, vinculadas às metas de
desenvolvimento sustentável da ONU, em três instituições da cidade: uma igreja,
um orfanato e um colégio.
Cada um dos lugares pelos quais passei me trouxeram
aprendizados, mas sem dúvidas trabalhar no orfanato foi a experiência mais
impactante, pois ali fui inserido em um ambiente completamente diferente ao que
estava habituado.
Leia também: Intercâmbio: Modo de Fazer
Aprendizados e
Dificuldades no intercâmbio de Trabalho Voluntário
Venho de uma família bem estruturada, que sempre me
apoiou e me deu suporte nas minhas decisões. De repente, me vi tendo que
mostrar a crianças que haviam sofrido abusos, que foram retiradas de seus pais
ou que sequer os conheceram, como elas não deveriam perder a fé em si mesmas e
no mundo. Como eu poderia fazer isso? Eu não fazia ideia a dor que aquelas
crianças sentiam. Como ajudar em algo que eu não entendo? Essas perguntas não
saiam da minha cabeça, mas em algum momento me dei conta de que eu não precisava
sentir a dor que elas sentiam para ajudar de alguma forma. Eu estava ali
justamente para trazer a elas um pouco de esperança, e a palavra empatia nunca
fez tanto sentido pra mim como naquele momento.
Uma das razões principais para eu ter ido ao meu intercâmbio
de trabalho voluntário foi o momento de vida pelo qual passava. Havia acabado
de terminar a faculdade, não fazia ideia do que fazer com o meu diploma e com
nada do meu futuro. Além de todo o aprendizado que tive, aquelas crianças me
deram algo muito maior do que eu poderia dar a elas: a clareza de que eu
gostaria de continuar fazendo em meu país o que havia feito na Bolívia;
gostaria de continuar ensinando e aprendendo constantemente. Por isso decidi
seguir a carreira acadêmica e, de alguma forma, continuar desenvolvendo
pessoas.
Depois da volta
No curto período de tempo do meu intercâmbio de
trabalho voluntário aprendi muito mais sobre mim do que em grande parte da
vida. Mas o mais gratificante foi, ao final do projeto, ouvir as crianças
falarem em um futuro que antes sequer sabiam que poderia existir – poder vê-las
sonhar e isso foi impagável. Além de tudo isso, fui hospedado por uma família
incrível que me mostrou o quanto a cultura boliviana é rica (e bem diferente da
nossa, ao contrário do que eu pensava). Não foi fácil deixar o Brasil, mas
deixar Oruro foi tão difícil quanto.
De volta a minha cidade, precisava retomar a vida –
agora um pouco menos perdido do que quando parti. Graças a uma amiga que fiz
durante os anos como membro da AIESEC em Campo Grande, consegui um trabalho
como Analista de Gestão de Pessoas em uma empresa referência no desenvolvimento
de aplicativos para dispositivos móveis e web, e é onde continuo desde então.
Este trabalho tem me trazido muita satisfação, pois permite que eu concilie
meus desejos de aprender e de desenvolver pessoas.
Mas, como disse antes, uma das decisões tomadas
pós-intercâmbio é que eu iria seguir a carreira acadêmica – por isso decidi
fazer um mestrado e tive a felicidade de ser aprovado na Universidade do Estado
de Santa Catarina. No fim, é muito difícil colocar em palavras tudo o que
minha experiência na AIESEC me trouxe de crescimento pessoal e profissional,
mas uma coisa é fato: qualquer jovem que viva isso carrega consigo uma série de
competências que dificilmente desenvolveriam somente na faculdade.
Sobre o Autor
Diego Ungari, 26 anos, é formado
em Direito pela UFMS e mestrando em Administração pela Universidade do Estado
de Santa Catarina. Trabalhou na AIESEC em Campo Grande, e fez um Voluntário
Global na Bolívia, onde descobriu e confirmou sua vocação para trabalhar com
Pessoas. Hoje, ele é líder do time de Gestão na Jera (desenvolvimento de apps
para dispositivos móveis).
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