4 dicas da neurociência para
aprender uma língua mais rápido
Entenda por que algumas pessoas
têm mais facilidade com idiomas e como "treinar" o seu cérebro para o
aprendizado.
Claudia
Gasparini, da EXAME.com
Você gosta de dizer que
seu inglês é avançado, mas lá no fundo sabe que o seu nível não passa
do intermediário?
Saiba que você não está sozinho.
A desaceleração do aprendizado de uma língua estrangeira, até o ponto em
que o estudante estaciona num patamar mediano, tem até nome: “platô
intermediário”.
Conhecido de muitos alunos e
professores de idiomas, o fenômeno é extremamente comum no Brasil. E a razão
pela qual tantas pessoas chegam a esse ponto de estagnação tem a ver com
questões emocionais, diz a neurocientista Carla Tieppo, professora da
Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
“Em geral, somos muito sensíveis
a críticas à nossa forma de falar uma língua estrangeira”, explica ela. “Se, no
início do processo de aprendizado, a pessoa se deparou com um professor que fez
uma certa expressão facial quando ela pronunciou algo errado, ou fez uma
correção sem muito tato, isso pode deixar marcas na relação dela com o idioma”.
Embora profundamente ligado às
emoções, o processo também depende fortemente dos seus recursos cognitivos – o
que não significa que conquistar a fluência dependa apenas do grau de
inteligência verbal de cada um.
Por que algumas
pessoas têm mais facilidade com idiomas?
Segundo a professora Carla, a
velocidade com que cada indivíduo adquire domínio sobre uma língua está
atrelada a múltiplos fatores.
Um deles é a disposição
psicológica para o aprendizado. Você pode, por exemplo, deixar que esse
processo seja contaminado pela vergonha e pelo medo da exposição. Uma outra
postura, mais produtiva, seria estar aberto à tentativa e ao erro, sem impor a
si próprio a obrigação de dominar tudo de cara.
Quem tem mais facilidade para
línguas costuma ter muita curiosidade e enxergar o aprendizado como um desafio,
e não como como um teste.
Também é preciso mencionar o
papel das habilidades cognitivas de cada pessoa. A professora Carla destaca a
chamada “memória de trabalho”, uma espécie de memória RAM do cérebro.
Como a comparação sugere,
trata-se do componente cognitivo que permite processar vários níveis de
informação ao mesmo tempo – no caso, dominar simultaneamente pronúncia,
significado e regras gramaticais enquanto você se expressa. Quem tem habilidade
com esse tipo de “malabarismo” de dados normalmente se sai melhor com idiomas.
Dito isso, as variáveis
envolvidas nesse processo ainda não são totalmente conhecidas e continuam
intrigando os cientistas.
Basta estudar as
regras?
O húngaro Balázs Csigi, fluente
em 7 línguas, defende que o processo de aprendizagem pode ser facilitado se o
estudante fizer uma imersão na cultura do país que fala o idioma estudado.
“Memorizar palavras não é uma
opção se você quer alcançar a excelência”, escreve o poliglota
em artigo para o site Business Insider. “Em vez de aprender pela
repetição, você precisa ir além da superfície e desvelar a cultura escondida
atrás de cada palavra e expressão”.
Para justificar sua tese, o
húngaro analisa o sentido da palavra inglesa “reasonable”, muito usada
em expressões como “reasonable guy”, “reasonable time” ou “reasonable
request”. Em português, o termo equivalente seria “razoável” ou “sensato”,
mas é bem menos empregado do que em inglês.
A razão é cultural. Segundo
Csigi, o uso frequente de “reasonable”, adjetivo que se origina de
“reason”, tem a ver com a admiração da sociedade anglo-saxônica por conceitos
como razão, ciência, lógica e senso comum.
Para assimilar essa ou qualquer outra palavra, diz
ele, é preciso entender seu significado mais profundo para os povos que a
empregam. Daí a importância de se estudar a cultura paralelamente às regras
gramaticais e lexicais, e assim dar um salto no seu aprendizado.
Como dominar uma língua mais rápido?
Com base em conceitos e estudos da neurociência, é
possível chegar a alguns conselhos práticos para acelerar o processo de aquisição
de uma língua. Veja a seguir 4 deles:
#1 Insira seu aprendizado em um
contexto
Imagine que você deva dizer em francês a frase “Preciso de um telefone com urgência” em duas situações diferentes: na sala de aula, durante um exercício oral, ou no meio de uma rua escura em Paris, após ter perdido os seus documentos. Em qual momento você exigirá mais do seu cérebro?
Imagine que você deva dizer em francês a frase “Preciso de um telefone com urgência” em duas situações diferentes: na sala de aula, durante um exercício oral, ou no meio de uma rua escura em Paris, após ter perdido os seus documentos. Em qual momento você exigirá mais do seu cérebro?
A resposta é óbvia. “Quanto maior
for a necessidade de compreender uma língua ou se expressar nela, mais veloz
será o aprendizado”, diz Carla. É por isso que tantas pessoas se desenvolvem
rapidamente num idioma quando moram no exterior. A vida real é muito mais
exigente do que as simulações: ou você aprende, ou não sobrevive.
Mas você não precisa
necessariamente morar em outro país para ganhar fluência. Basta buscar contexto
e necessidade para o aprendizado. Os videogames com áudio em inglês, por
exemplo, são um ótimo recurso para esse fim. “Você precisa compreender o que
está sendo dito para passar para a próxima fase e continuar jogando”, afirma a
professora da Santa Casa. “Isso traz um estímulo muito mais poderoso do que um
exercício isolado na lousa”.
#2 Assista a um mesmo filme estrangeiro 3 vezes
Outro método simples para impulsionar o seu aprendizado é ver três vezes um filme falado na língua que você está estudando. Na primeira, habilite as legendas em português. Na semana seguinte, veja tudo com legendas no idioma estrangeiro. Na terceira e última vez, dê o play no vídeo sem legendas.
Outro método simples para impulsionar o seu aprendizado é ver três vezes um filme falado na língua que você está estudando. Na primeira, habilite as legendas em português. Na semana seguinte, veja tudo com legendas no idioma estrangeiro. Na terceira e última vez, dê o play no vídeo sem legendas.
Segundo Carla, essa é uma forma
interessante de melhorar o seu processamento auditivo. Na terceira vez que
assistir ao filme, sem legendas, você já conhecerá a história e talvez se
lembre de vários diálogos.
Assim, você fará associações
entre forma, som e significado, além de treinar o reconhecimento de várias
palavras no outro idioma.
#3 Ouça (muita) música
Este conselho vale especialmente para quem já teve contato com a língua estudada por meio de canções.
Este conselho vale especialmente para quem já teve contato com a língua estudada por meio de canções.
Você adora um determinado artista
que canta em francês, espanhol ou inglês, por exemplo? Ao ouvi-lo –
especialmente se tiver a letra da música em mãos – é provável que você tente
compreender o que ele canta.
Está aí a grande contribuição da
música estrangeira para o estudo de línguas, diz Carla. “A perspectiva de
finalmente entender uma letra que você nunca entendeu traz muita motivação, que
é uma condição básica para o aprendizado”, explica a especialista.
#4 Use expressões na outra língua tanto
quanto puder
Outra dica da neurocientista é empregar o idioma estrangeiro com a maior frequência possível na sua rotina – mesmo que seja entre frases em português.
Outra dica da neurocientista é empregar o idioma estrangeiro com a maior frequência possível na sua rotina – mesmo que seja entre frases em português.
De acordo com Carla, quanto mais
você usar a língua em situações do dia a dia, mais rápido irá incorporá-la ao
seu repertório – até o ponto em que as palavras sairão automaticamente da sua
boca diante de cada acontecimento.
“Se você acha pedante dizer
palavras estrangeiras no meio de uma conversa com outro brasileiro, pelo menos
faça o exercício mentalmente”, diz a professora. “Ainda assim, falar em voz
alta é mais aconselhável, porque permite ouvir a sua própria pronúncia e
corrigi-la gradativamente”.
Este
texto foi originalmente publicado na Exame.com
0 Comentários