População pobre
terá dificuldades em isolamento, afirma infectologista
IBGE mostra alto índice de aglomeração em residências carentes
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Publicado em 21/03/2020 - 17:42
Por Gilberto Costa - Repórter da Agência Brasil - Brasília
A situação dos brasileiros mais
pobres durante a pandemia do novo coronavírus “é uma grande preocupação” do
médico Marco Aurélio Sáfadi, diretor do Departamento de Infectologia da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e diretor do Departamento de Pediatria
da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. “Com mais de 30
anos de experiência, eu nunca trabalhei com tanta ansiedade”, desabafa.
De acordo com o Sáfadi, Estado e
sociedade devem agir para garantir “blindagem dos idosos”. Ele defende medidas
já tomadas, como o confinamento compulsório das pessoas em casa, a interrupção
de atividades, como aulas, e o fechamento do comércio nas cidades. “De fato as
restrições de circulação desempenham um papel importante”. Ele pondera que a
ampliação da testagem da população, já feita em outros países, também
seria efetiva. “A partir dali, o indivíduo passa a tomar mais cuidados”,
acredita o médico.
Em sua visão, a infecção causada
pelo novo coronavírus será mais branda entre as crianças do que nas faixas
etárias mais avançadas. No entanto, elas poderão involuntariamente “desempenhar
um papel importante na dinâmica da transmissão”, explica Sáfadi. O especialista
alerta para a situação de localidades densamente ocupadas com residências de
poucos cômodos e muitos moradores.
“É inexorável que a doença vá se
alastrar. Como pedir isolamento a uma família onde cinco dormem no mesmo
cômodo?”, pergunta o médico. Segundo o estudo Sínteses dos Indicadores Sociais do IBGE, de 2019, 5,6%
do conjunto da população e 14,5% da população abaixo da linha da pobreza dormem
em cômodos com mais de três pessoas. Conforme critério do Banco Mundial, são
considerados pobres pessoas que têm rendimento domiciliar per capita inferior a
US$ 5,5 por dia, aproximadamente R$ 27,50.
O IBGE informa que uma parcela
significativa de brasileiros mora em condições que trazem dificuldades para o
controle de epidemias. Segundo dados do instituto, 12% da população reside em
locais com ao menos uma inadequação. Além da alta densidade de pessoas na mesma
residência, “a utilização de materiais não-duráveis nas paredes externas do
domicílio” e “a ausência, no domicílio, de banheiro de uso exclusivo dos
moradores – ou seja, um cômodo com instalações sanitárias e para banho”.
Mais de 37% dos brasileiros
residem em moradias onde falta ao menos um serviço de saneamento básico. Entre
os mais pobres a situação é pior: a taxa sobe para 60% da população.
Edição: Pedro Ivo de Oliveira
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